domingo, 15 de maio de 2011

A Identidade na Conjuntura da Globalização

Regionalização e globalização

06 de abril de 2011 | 0h 00
Mario Cesar Flores - O Estado de S.Paulo
Setores brasileiros relutantes à globalização vêm manifestando mais simpatia pela integração regional, em que é naturalmente maior a presença relativa do Brasil. Além de vista como útil ao comércio regional (em tese, é), no qual o Brasil se destaca, a alternativa é entendida também como reforço da região nas negociações em foros globais (como a OMC).
Os fatos não têm sido assim positivos no Mercosul: a Tarifa Externa Comum e o livre-comércio intrabloco estão longe do idealizado e nas negociações globais não tem havido segurança de convergência regional. Nosso trôpego Mercosul vem funcionando precariamente e funcionará pior se a Venezuela bolivariana nele ingressar de pleno, com suas idiossincrasias e seu antagonismo aos EUA - que não impede ser para os EUA mais da metade de sua exportação de petróleo... Para o comércio regional o ingresso tem potencial positivo, mas a prudência sugere-o inseguro, em razão do poder que a Venezuela terá para tumultuar arranjos extrarregionais, com os EUA e a União Europeia (UE), por exemplo.
A explicação dos tropeços do Mercosul é simples: uniões econômicas tendem à inconsistência quando são menos produto da conveniência econômica e mais da vontade política visionária. Se os interesses econômicos não se ajustam (quesito do sucesso da visão política, ao menos quando inexiste ameaça estratégica que a justifique) porque as economias são demasiado assimétricas e não complementares, se não competidoras, a inconsistência acaba avançando (para a infraestrutura a proximidade geográfica também é exigida). No Mercosul os quesitos estão atendidos na geografia (o que sugere potencial na infraestrutura, sobretudo na energia) e limitadamente na economia, na qual existem conflitos.
Nascido geoeconômico nos anos 1980, desde 2003 para o governo brasileiro o Mercosul tem sido mais geopolítico. O que o vem mantendo vivo tem sido menos a lógica econômica e mais a vontade política, sobretudo brasileira. Na política internacional ampla o Mercosul geopolítico faz sentido, mas um sentido até agora frágil na realidade; a esse respeito, uma dúvida instigante: nossos "companheiros" regionais apoiam a pretensão brasileira ao assento permanente no Conselho de Segurança da ONU...? De qualquer forma, porque visto como portador de potencial, seu preço vem sendo pago pelo Brasil, que está longe da opulência dos EUA do Plano Marshall, útil à recuperação da Europa pós-guerra e à defesa contra a URSS.
Há dificuldades em vários setores, a exemplo do gás boliviano e da energia de Itaipu, mas sobretudo no comércio, em que a Argentina é parceira saliente e difícil, os percalços da interação econômica agravados pela insegurança da vontade política argentina, positiva na infância "Sarney-Alfonsín" do acordo, regular com Menem (com o violento desabafo anti-Brasil do ministro da Economia Domingo Cavallo quando da desvalorização do real em 1999) e negativa com os Kirchner. Em suma, um contexto complexo, em que o Brasil vem sistematicamente cedendo vantagens.
A Argentina, país com potencial relevante, pode até estar certa no seu protecionismo anti-Brasil. Mas nesse caso vale a pena insistir no Mercosul geopolítico, sob turbulência econômica que inibe sua efetiva realização? Devemos continuar indefinidamente com nosso débil Plano Marshall caboclo, para o qual nos falta fôlego econômico e motivação estratégica? A ideia Mercosul é, portanto, positiva em tese, mas sua tumultuada realidade, hoje sustentada na vontade política, mais a brasileira, não tem correspondido ao ideal de sua criação. E a superação do déficit depende da vontade política também de nossos vizinhos, sujeita a injunções políticas internas e à visão que eles têm do Brasil, como parceiro merecedor de cuidados.
Além de insatisfatório no desempenho econômico interno, o Mercosul cerceia o Brasil no mundo porque impede acordos bilaterais (Brasil-UE, por exemplo) e a bilateralidade tendo o próprio Mercosul como uma ponta do bilateral (o que seria ótimo) é difícil em razão da dificuldade de conciliar interesses intrabloco. Quão mais difícil será com a Venezuela membro pleno...?
No mundo contemporâneo não há estanqueidade: acordos regionais, ainda que bem-sucedidos, não dispensam a interação globalizada, haja vista a UE, que procura ampliar seu comércio com o mundo porque precisa de produtos de fora (sobretudo commodities) e também porque o mercado global amplia o dinamismo de sua economia. Os EUA já investem mais na China que no México porque o retorno da China é maior, a despeito da moldura da Nafta e da proximidade do México! Enfim, nenhum país (ou região) pode menoscabar o comércio global, por vezes no pressuposto de que o mercado interno prescindiria do internacional - uma fantasia ou meia-verdade, variável de país para país: os EUA dependem mais do interno, o Japão, do externo. O Brasil, mais do interno, mas o externo já pesa.
A afirmação do então presidente Lula de que a "onda" da crise de 2008-2009 teria sido uma "marola" aqui porque o mercado interno compensou a retração do externo expressa um caso de meia-verdade: o mercado interno ajudou, mas não seria solução. Além de limitado o poder aquisitivo de parcela ponderável de nossa população, o consumo interno não poderia mesmo compensar a queda da exportação: o que fazer com dezenas de milhões de toneladas de soja se a UE e a China não as importassem? A queda da demanda de aviões, que atingiu a Embraer, teria compensação interna? Nossos parceiros regionais resolveriam isso...? A repercussão teria sido maior com mercado interno menor, mas ocorreria - e nosso PIB caiu 0,3% em 2009.
Priorizar a regionalização (ou a concepção Sul-Sul, lato sensu) é optar pelo natural destaque no Terceiro Mundo, engajar-se na globalização é optar pelo desejável caminho para o Primeiro Mundo. Nosso desafio é compatibilizar o Mercosul com o imperativo da globalização.
ALMIRANTE DE ESQUADRA  (REFORMADO)
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20110406/not_imp702322,0.php

A globalização associa-se hoje, a um amplo conjunto de transformações, que configuram a passagem para um novo paradigma tecno-econômico. Esse novo padrão tecnológico e produtivo é centrado nas modernas tecnologias de informação e comunicação, que anulam o espaço através do tempo (MASSEY, 2000), revolucionando as relações espaços-temporais e fazendo com que a informação passe a ser “o verdadeiro instrumento de união entre as diversas partes de um território” (SANTOS et al, 1994:17).

As características mais marcantes desse período são a tendência a homogeneização, expansão das corporações transnacionais e de seu poder de influência, revolução comunicacional e científica, surgimento de blocos econômicos comerciais, hibridização entre culturas locais e de massa universal.

A globalização afeta a vida de todas as pessoas e países à escala planetária e implica a transformação, não só dos sistemas mundiais, mas também da nossa vida cotidiana afetando a forma como nos vemos e a forma como nos relacionamos com os outros e com os espaços.
Tal interferência é refletida nos modos de vida e comportamentos humanos influenciados por uma ideologia baseada no consumo e apreendida com base nos meios de comunicação como disseminador das novas necessidades criadas pelas grandes corporações internacionais.

HALL (1998, p-69) argumenta que a globalização causa um impacto sobre as identidades nacionais, caracterizando-se pela ‘compressão espaço-tempo’, acelerando os processos globais “de forma que se sente que o mundo é menor e as distâncias mais curtas, que os eventos em um determinado lugar têm um impacto sobre as pessoas e lugares situados a uma grande distância.”.

O impacto se apresenta tanto na escala local como na global, porém é no local que há uma maior intensidade da interferência como diz GUPTA e FERGUSON (2000): resultado é que tanto a arena local como as arenas mais amplas se transformam – a local mais do que a global, com certeza –, mas não necessariamente numa direção predeterminada”.

É nas cidades que podemos notar uma maior intensidade de impactos da globalização, sendo uma das principais associada às relações sociais a partir do comportamento humano.

A hegemonia do urbano no contexto da globalização compreende aspectos referentes ao papel de cada uma na organização do espaço mundial, além de influenciar diretamente nas características do rural.

As cidades passam a ser o ponto de controle das ações e ordens a serem executadas.

Explicando do ponto de vista das telecomunicações CLAVAL (1976) elucida:
A gênese dos sistemas de comunicação contemporâneos permite ver isso de maneira clara: para que uma rede telefônica funcione eficazmente e sem custo excessivo, é preciso que cada assinante seja conectado diretamente a uma central telefônica – diz-se ainda um “referencial”.

Seria pela presença das centrais de todos os tipos que o urbano ganha status, força e se hierarquizando aumentaria a sua complexidade. “A revolução dos transportes modernos e das telecomunicações está transtornando a trama das cidades e a hierarquia das redes urbanas” (CLAVAL, 2008, P-35).

A rede urbana é afetada pela globalização através do surgimento de novas criações urbanas como também pela refuncionalização de centros preexistentes.

As metrópoles exercem o papel de liderança na hierarquia urbana mundial, devido à presença dos pontos de controle da sociedade, já as médias e pequenas são responsáveis principalmente pelo recebimento das ordens e consumo das mercadorias produzidas.

Há a necessidade da existência dos pequenos e médios centros para a reprodução das necessidades capitalistas como nos diz CORRÊA, (1999, p-45):

A elevada ocorrência de pequenos centros deriva, de um lado, de uma necessária economia de mercado, por mais incipiente que seja, geradora de trocas fundamentais em uma mínima divisão territorial do trabalho. De outro, deriva de elevadas densidades demográficas associadas a uma estrutura agrária calcada no pequeno estabelecimento rural ou em plantations caracterizadas pelo trabalho intensivo.

Assim como no campo econômico, no social há uma pluralidade a partir da complexidade das cidades delineadas a partir da maneira como se situam as reflexões sobre os impactos da globalização no urbano.

CARLOS faz uma análise do lugar na cidade de São Paulo, maior metrópole do país, notadamente com propriedade, demonstrando aspectos marcantes a respeito do comportamento dos seus habitantes.

As pessoas passam na rua, umas pelas outras, sem se ver, ninguém parece ser especialmente notado. O cidadão parece passar despercebido na multidão de rostos preocupados ou mesmo sem expressão, perdidos no burburinho de vozes e sons indistintos. O constante ir e vir das pessoas acontece sem que elas deixem rastros aparentes... (2007, p-75).

Tais características, por vezes, não se aplicam em determinadas cidades como nas médias ou pequenas, ou até mesmo em bairros dentro da metrópole. Por isso é preciso tomar a análise de maneira cuidadosa.

É preciso compreender as cidades a partir das redes e verificando os aspectos que marcam a diferenciação das metrópoles das outras aglomerações urbanas. As redes representam o fio condutor das estratégias engendradas a partir dos centros de comando no interior das metrópoles.

A partir das redes de comunicação podemos interpretar parte os fenômenos urbanos, mas devemos considerar outros aspectos importantes que foram negligenciados por parte da ciência.

É a partir da análise dos processos de comunicação que é possível interpretar as formas construídas, sua densidade mais ou menos forte e os diferentes aspectos que revestem a nodalidade. O desenho das ruas, a concepção das construções, seu significado extravasam evidentemente de uma explicação única da comunicação. Convém portanto, analisar também os ritmos de vida da cidade, de descrever sua existência no cotidiano e de evocar sua fisionomia durante o fim-de-semana e suas transformações no momento das festas. Um lugar deve igualmente ser dado aos urbanistas e idealizadores da cidade e à experiência vivida por cada um (CLAVAL, 1981).


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