domingo, 15 de maio de 2011

Trecho do filme "Por uma outra Globalização", Milton Santos



"Essa globalização não vai durar. Primeiro, ela não é a única
possível. Segundo, não vai durar como está porque como está é
monstruosa, perversa. Não vai durar porque não tem finalidade."
Milton Santos

O mundo atravessa um momento complexo, com características únicas nunca vistas na história. Esse fenômeno é conhecido por globalização e tende ao aprofundamento das relações econômica, cultural, social e política. As conseqüências são sentidas em todas as áreas da sociedade, rapidez nos deslocamentos, aumento no comércio internacional, nas comunicações, nas relações sociais, etc.

O estreitamento das relações gera homogeneidade e ao mesmo tempo movimentos de heterogeneidade, ou seja, no mundo em que tudo tende a ser igual, surge como contraponto a força da diferença.

É possível notar essa diferenciação no interior das cidades modernas analisando o mundo vivido, do cotidiano. A diferença produz a especificidade do lugar a partir produção local do espaço geográfico no contexto urbano. 

No livro Por uma outra globalização - do pensamento único à consciência universal, Milton Santos observa a globalização sob três óticas: como fábula, perversidade e possibilidade para o futuro. A fábula é propagada por Estados e empresas, que colocam a globalização como fato inevitável. A imposição desse "pensamento único" naturaliza o caráter perverso do fenômeno e constitui o que Milton chamava "violência da informação". A perversidade da globalização se revela na medida em que seus benefícios não atingem sequer um quarto da população mundial, ao custo da pauperização de continentes inteiros. Vista como possibilidade para o futuro, ela passaria a empregar as técnicas de forma mais solidária, de modo a derrubar o globalitarismo -- termo cunhado por Milton que agrega ao conceito de globalização a noção de totalitarismo.

Milton acreditava que os pobres seriam o agente político dessa nova globalização, sobretudo nas cidades onde há pessoas de todos os tipos e intenso debate. Os pobres passam pela experiência da escassez, conceito resgatado do escritor francês Jean-Paul Sartre: o mundo dos objetos se amplia e o pobre descobre que jamais vai possuí-los. A classe média se acomoda com o conforto do consumo -- que substitui a cidadania e amortece a opinião pública --, mas já experimenta a escassez. Como possui maior instrução, pode vir a deflagrar o movimento social que transformaria a globalização.

A globalização é o momento da ocupação do território brasileiro que mais acentuou as desigualdades sociais e as diferenças regionais brasileiras. A concentração do meio técnico-científico-informacional dificulta o acesso a bens e serviços e gera vazios de consumo representados pela pobreza, sobretudo urbana, que reúne todo o conteúdo explosivo do território hoje.

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